Matemática ganha visibilidade na pandemia

 


Se tem algo que os noticiários têm evidenciado constantemente nos últimos quatro meses são números. E acompanhado deles expressões como “achatamento da curva de contaminação”, “incidência da taxa de contágio” e a “proporção de pacientes recuperados” se popularizaram em meio à pandemia do coronavírus (Covid-19). Conceitos e modelos matemáticos fizeram a ciência ganhar mais espaço na imprensa e na vida das pessoas. Gráficos e projeções passaram a estar presentes no dia a dia frequentemente. Mas será que todo mundo sabe interpretá-los?

Para o matemático e engenheiro civil, Bartolomeu de Gusmão Júnior, a dificuldade das pessoas em entender e aplicar esses conceitos é mais uma evidência de que a forma como aprendem matemática na escola está muito longe de prepará-las para usar a disciplina na vida real. “A matemática é uma disciplina viva, em constante desenvolvimento. Mas o currículo escolar e as práticas de ensino não acompanham essas mudanças. Os alunos precisam ser ensinados a raciocinar além dos exercícios e das avaliações. Eles precisam sair da escola todos os dias com maior independência intelectual do que quando chegou”, aponta o professor com experiência de 20 anos em salas de aula.

A disciplina, segundo ele, está sendo ensinada nas escolas nos moldes do século 19. E pode ser por isso que as pessoas torcem o nariz para a matemática, por considerarem algo difícil e, assim, não se interessando pelo assunto. Entender o quanto a ciência é relevante para a sociedade pode mostrar outro lado dos números. A matemática deve ser ensinada como uma ferramenta necessária para o futuro, com a sua devida importância para a economia dos países e consequente compreensão da complexidade do mundo atual.

Para o professor, este pode ser um momento de ressaltar a importância da matemática e da estatística para a simulação de um mundo melhor. “O ensino de estatísticas, probabilidade, análise combinatória, raciocínio lógico relacionado a temas do cotidiano do século 21 é um caminho crucial para que os jovens entendam o mundo e, por isso, deveriam ser mais aprofundados”, afirma Bartolomeu.

Quem domina bem estes conceitos, segundo ele, tem mais chances em carreiras que estão em alta como analista de dados, estatístico, desenvolvedor de sistemas, analista financeiro e cientista de dados. As pessoas precisam ser capazes de entender números, gráficos, probabilidades ou questões lógicas, por exemplo, e conseguir usar esses dados para entender padrões ou mesmo tomar decisões. “Para além da pandemia, professores devem pensar formas de abordar temas urgentes que não costumam estar presentes nas aulas de matemática, como mudanças climáticas, sustentabilidade ou participação eleitoral da população. Caso contrário, as pessoas vão se ver diante de números, gráficos e tendências sem entender sua própria capacidade de influenciar o comportamento destes dados”, assegura.

Embora haja a percepção de que a pandemia vai mudar a dinâmica das escolas e o ensino da matemática, a forma como isso vai acontecer ainda é uma interrogação. No entanto, Bartolomeu destaca que é preciso criar um novo normal, em vez de voltar para o normal de antes, que não estava funcionando.

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